quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Precisa-se de um amigo


Precisa-se de um amigo
[Vinícius de Moraes]

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração.

Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir.

Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaros, de sol, de lua, de canto, dos ventos e das canções da brisa.

Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.

Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo.

Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão.

Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados.

Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar.

Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vazio que isso deixa.

Deve ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de ser amigo.

Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.

Deve gostar de crianças e lamentar os que não puderam nascer.

Que saiba conversar de coisas simples, de orvalho, de grandes chuvas e de recordações da infância.

Precisa-se de um amigo para não enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.

Deve gostar das ruas desertas, de poças de água e dos caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tenha um amigo.

Precisa-se de um amigo para se parar de chorar.

Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas.

Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que nos chame de amigo, para se ter consciência de que ainda se vive.

2 comentários:

Ana disse...

Vinícius
O poeta da minha adolescência!
E ele sabia tanto da vida! Só agora consigo avaliar, entender um pouco do que ele falava!!

Eurípedes disse...

Eu concluí que depois dos cinquenta não aprendí nada que comecei e comecei a entender tudo que aprendí rs rs rs